segunda-feira, 4 de abril de 2011

Analise do excerto do capitulo XV, "Recolha das vontades"

Resumo
Scarlatti pede para voar na passarola se ela realmente voar. Há um surto de febre-amarela em Lisboa, trazido por uma nau vinda do Brasil. Padre Bartolomeu Lourenço pede à Blimunda que vá à cidade e recolha as vontades das pessoas, alertando-a para o perigo de contágio.
Assim, acompanhada por Baltasar, em jejum, durante um dia inteiro se põe a recolher tais vontades. Um mês depois, são mais de mil as vontades presas ao frasco em que Blimunda as recolhia. Quando a epidemia termina, ela tinha já aprisionado duas mil vontades. Foi então que caiu doente.

Personagens:
¨      Blimunda
¨      Baltasar
¨      Scarlatti
¨      Padre Bartolomeu Lourenço

Espaço físico
¨      Lisboa (S. Sebastião da Pedreira)

Recursos estilísticos
¨      Ironia
“… Scarlatti trouxe para a abegoaria um cravo, não o carregou ele, mas dois mariolas…..”

¨      Enumeração
“… dois mariolas, a pau, corda, chinguiço, e muito suor …”



¨      Comparação
“… os dedos sobre as teclas, como se soltasse as notas das suas prisões…”
“… o italiano tirava do cravo, que tanto parecia brinquedo infantil como colérica objurgação…”

¨      Dupla Adjectivação
“…o que parecera antes fragmentário e contraditório….”


¨      Hipérbole
“… Se a passarola de Bartolomeu de Gusmão chegar a voar um dia, gostaria de ir nela e tocar no céu…”
¨      Quiasmo

“…para outra paisagem, ou hora, ou árvore, ou murmúrio, veja-se este padre…”

terça-feira, 29 de março de 2011

Elementos simbólicos

Elementos simbólicos

Sete: é o somatório dos 4 pontos cardeais com a trindade divina; representa a totalidade do universo em movimento.

Nos nomes Baltasar e Blimunda tem um significado dual, uma vez que se liga à mudança do ciclo e à renovação positiva, cujo resultado será a construção da passarola.

Nove: representa a gestação, a renovação e o renascimento.

Blimunda procura Baltasar durante nove anos. Quando se separam, fragmenta-se a unidade representada pelo par. No final é a ela que pertence a “vontade” de Baltasar, no momento em que morre.

Passarola: elo de ligação entre o céu e a terra; “ barca voadora” (barca – viagem; ave – liberdade); representa a alma humana que ascende aos céus, numa ânsia de realização que a liberta do universo canónico e dogmático dos homens. Simboliza a libertação do espírito e a passagem a um outro estado de existência.   
           

A dimensão simbolica

Personagens Simbolicas

¨      Baltasar e Blimunda – personagens diferentes (ele, fisicamente, sem mão e ela, pelos seus poderes)

Ele é o demiurgo que cria a passarola. Tal como Ícaro, ousou aproximar-se demasiado do sol, sofrendo a queda definitiva que o conduziu à morte na fogueira.
A sua relação amorosa com Blimunda é baseada no silêncio, no conhecimento mútuo e implícito de ambos numa vida comum. A relação de completude que os une forma-os imunes ao meio que os rodeia, defende-os das superstições, fortalece-os contra medos e temores.
Simbolizam o Sol/ a Lua, o dia/ a noite, e a Luz/a Sombra, a união dos opostos, o universo divino e o universo humano.

¨      Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

Ser fragmentado, dividido entre a religião e a alquimia
Aplica os conhecimentos mecanicistas da razão e da técnica, ultrapassando a sua época
Simboliza a aspiração humana, que está subjacente ao voo da passarola através das “vontades”, substituindo o dogmatismo religioso pelo humanismo.


¨      Domenico Scarlatti

Representa o transcendente que advêm da musica e que, ligado à clarividência de Blimunda, instaura o domínio do maravilhoso na obra.
Simboliza a ascensão do homem através da música numa clara união entre a acção e o pensamento
Ligado ao mito de Orpheu

Linguagem e Estilo

Memorial do Convento é uma obra marcada por uma narrativa de ritmo caudaloso, fluente, ritmado por frases longas, onde são utilizados ditados populares e expressões que revelam uma sabedoria adquirida na vida quotidiana. As marcas de oralidade são, igualmente, utilizadas ao longo de toda a obra. Saramago possui um estilo muito próprio, dialogal e inconfundível, onde as regras do discurso são aparentemente transgredidas: utiliza parágrafos com aproximadamente uma pagina, com textos contínuos com diálogos neles inseridos, sem recorrer à utilização da pontuação normalmente utilizada: os dois pontos, o travessão ou as aspas. A estrutura não deixa de ser organizada, mas existem no texto linguagens que não correspondem ao estilo discursivo habitualmente utilizado. “ De facto, José Saramago parece ter revertido ou radicado o processo de escrita ao modo próprio da fala. Enquanto o discurso escrito obedece a um conjunto de preceitos linguísticos segundo a normatividade da língua, o discurso oral permite a libertação deste modelo, deixando soltar a linguagem em improvisos sintácticos, morfológicos, semânticos e até fonéticos, que exprimem a vivacidade, a novidade e a originalidade da língua”.
Exemplificando, a descrição de elementos espaciais ou de comportamentos e atitudes das personagens mostra uma transgressão das regras linguísticas do texto escrito, “levando à interpretação de elementos descritivos e narrativos, à mistura com diálogos e outros segmentos frásicos que tornam o discurso indirecto “diluído”, mais próximo de realizações próprias do discurso indirecto livre (onde as coordenadas da narração reflectem uma polifonia enunciativa sem fronteiras claras).”
Muitas das personagens na obra remetem-nos para excertos com elevada simbologia. Após a leitura da obra, é possível verificar que o autor “cria” um novo discurso, proveniente da mistura dos discursos directos, indirectos e indirectos livre, que, por vezes, torna difícil a sua diferenciação. Existe uma alternativa entre o discurso escrito e o discurso oral onde, por vezes, está intercalado o monólogo interior.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tempo do Discurso

É o tratamento que o narrador dá ao tempo podendo ou não seguir a ordem cronológica dos acontecimentos. Nesta obra o narrador recorre a uma analepse que explica a construção do convento como consequência de um desejo antigo expresso em 1624 pelos franciscanos de possuírem um convento em Mafra.
O narrador corre ainda a prolepses;
  
¨      Prolepses que dão a conhecer as mortes do sobrinho de Baltasar e do infante D.Pedro para estabelecer o contraste do sois funerais;
¨      Prolepses que revela a morte de Álvaro Diogo de uma queda durante a construção do convento;
¨      Prolepses que informa sobre os bastardos que o rei iria gerar, filhos de freiras que seduzia;
¨      Prolepses que constitui uma visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador ( tempo da história e tempo da escrita ): referencia aos cravos, aos voos da passarola e a ida do homem a lua.


Espaço Psicológico

É um conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens.

Os sonhos:

¨      Os sonhos de D. Maria Ana com o cunhado, o infante D. Francisco, que revelam a sua condição feminina reprimida.
¨      Baltazar sonha com Blimunda e com o padre Bartolomeu.

Os pensamentos:
   
¨      Do padre Bartolomeu Lourenço acerca da religião, da ciência dos projectos.


O Tempo

Tempo Histórico

São todas as informações que permitem caracterizar o reinado de D. João V.

Tempo da História ou Tempo Cronológico
                                     
      Inclui todas as referências as datas, anos, meses, dias, momentos do dia.

                                   
¨      1711- D. João V ainda não fizera 22 anos;
                  D. Maria Ana tinha vindo da Áustria à 2 anos.

¨      1717- Bênção da primeira pedra do convento;
                  Baltasar e Blimuda regressam a Lisboa para continuar a passora.

¨      1719- Casamento de D .José com Mariana Vitória e de Maria Barbara com o príncipe D. Fenando VI de Espanha.

¨      1730- 22 de Outubro; 41º aniversário do rei; sagração do convento de Mafra.

¨      1739- Blimunda vê Baltasar a ser queimado num auto-de-fé.
                       Passam 28 anos.






sábado, 19 de março de 2011

Espaço Social

Procissão da Quaresma
  • Penitencia física e mortificação da alma após os excessos do Entrudo;
  • Descrição da procissão;
  • Manifestações histéricas de fé.

Auto-de-fé
  • São dias de festa;
  • Revelam o gosto sanguinário do povo, que procura preencher o vazio da sua vida através de emoções fortes;
  • As mulheres exibem as suas toilettes e entregam-se a jogos de sedução;
  • A proximidade da morte dos condenados constitui o ambiente de motivo de festa;
  • Os bens dos Judeus são deixados à coroa, daí que a sua morte seja encarada positivamente;
  • É num auto-de-fé que se conhecem Blimunda e Baltasar.

Tourada
  • Momento de tortura dos animais, por vezes comparado à tortura nos auto-de-fé;
  • Os assistentes aproveitam, mais uma vez, para se entregarem a jogos de sedução.

Procissão do corpo de Deus
  • É uma crítica às crenças religiosas;
  • Referencia como Baltasar e Blimunda vivem a procissão;
  • Critica à vida dissoluta do rei com as freiras;
  • Visão oficial da procissão como forma de libertar as almas dos pecados cometidos;
  • Histeria colectiva das pessoas que se batem a si próprios e aos outros como manifestação da sua condição de pecadores.

O Trabalho no Convento
  • Mafra surge como um local de servidão desumana a que D. João V sujeitou os seus súbitos para alimentar a sua vaidade;
  • 40.000 portugueses foram obrigados pela força das armas a se deslocarem das suas casas e a edificarem o convento.

A miséria no Alentejo
  • O Alentejo é um espaço de fome e de miséria, de luta pela sobrevivência, onde por vezes as pessoas se entregam a comportamentos imorais.

Cortejo Real
  • Atravessa o Alentejo aquando dos casamentos dos príncipes. Um grande numero de mendigos acompanha o cortejo, destacando-se mais uma vez os contrastes sociais.