terça-feira, 29 de março de 2011

Elementos simbólicos

Elementos simbólicos

Sete: é o somatório dos 4 pontos cardeais com a trindade divina; representa a totalidade do universo em movimento.

Nos nomes Baltasar e Blimunda tem um significado dual, uma vez que se liga à mudança do ciclo e à renovação positiva, cujo resultado será a construção da passarola.

Nove: representa a gestação, a renovação e o renascimento.

Blimunda procura Baltasar durante nove anos. Quando se separam, fragmenta-se a unidade representada pelo par. No final é a ela que pertence a “vontade” de Baltasar, no momento em que morre.

Passarola: elo de ligação entre o céu e a terra; “ barca voadora” (barca – viagem; ave – liberdade); representa a alma humana que ascende aos céus, numa ânsia de realização que a liberta do universo canónico e dogmático dos homens. Simboliza a libertação do espírito e a passagem a um outro estado de existência.   
           

A dimensão simbolica

Personagens Simbolicas

¨      Baltasar e Blimunda – personagens diferentes (ele, fisicamente, sem mão e ela, pelos seus poderes)

Ele é o demiurgo que cria a passarola. Tal como Ícaro, ousou aproximar-se demasiado do sol, sofrendo a queda definitiva que o conduziu à morte na fogueira.
A sua relação amorosa com Blimunda é baseada no silêncio, no conhecimento mútuo e implícito de ambos numa vida comum. A relação de completude que os une forma-os imunes ao meio que os rodeia, defende-os das superstições, fortalece-os contra medos e temores.
Simbolizam o Sol/ a Lua, o dia/ a noite, e a Luz/a Sombra, a união dos opostos, o universo divino e o universo humano.

¨      Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

Ser fragmentado, dividido entre a religião e a alquimia
Aplica os conhecimentos mecanicistas da razão e da técnica, ultrapassando a sua época
Simboliza a aspiração humana, que está subjacente ao voo da passarola através das “vontades”, substituindo o dogmatismo religioso pelo humanismo.


¨      Domenico Scarlatti

Representa o transcendente que advêm da musica e que, ligado à clarividência de Blimunda, instaura o domínio do maravilhoso na obra.
Simboliza a ascensão do homem através da música numa clara união entre a acção e o pensamento
Ligado ao mito de Orpheu

Linguagem e Estilo

Memorial do Convento é uma obra marcada por uma narrativa de ritmo caudaloso, fluente, ritmado por frases longas, onde são utilizados ditados populares e expressões que revelam uma sabedoria adquirida na vida quotidiana. As marcas de oralidade são, igualmente, utilizadas ao longo de toda a obra. Saramago possui um estilo muito próprio, dialogal e inconfundível, onde as regras do discurso são aparentemente transgredidas: utiliza parágrafos com aproximadamente uma pagina, com textos contínuos com diálogos neles inseridos, sem recorrer à utilização da pontuação normalmente utilizada: os dois pontos, o travessão ou as aspas. A estrutura não deixa de ser organizada, mas existem no texto linguagens que não correspondem ao estilo discursivo habitualmente utilizado. “ De facto, José Saramago parece ter revertido ou radicado o processo de escrita ao modo próprio da fala. Enquanto o discurso escrito obedece a um conjunto de preceitos linguísticos segundo a normatividade da língua, o discurso oral permite a libertação deste modelo, deixando soltar a linguagem em improvisos sintácticos, morfológicos, semânticos e até fonéticos, que exprimem a vivacidade, a novidade e a originalidade da língua”.
Exemplificando, a descrição de elementos espaciais ou de comportamentos e atitudes das personagens mostra uma transgressão das regras linguísticas do texto escrito, “levando à interpretação de elementos descritivos e narrativos, à mistura com diálogos e outros segmentos frásicos que tornam o discurso indirecto “diluído”, mais próximo de realizações próprias do discurso indirecto livre (onde as coordenadas da narração reflectem uma polifonia enunciativa sem fronteiras claras).”
Muitas das personagens na obra remetem-nos para excertos com elevada simbologia. Após a leitura da obra, é possível verificar que o autor “cria” um novo discurso, proveniente da mistura dos discursos directos, indirectos e indirectos livre, que, por vezes, torna difícil a sua diferenciação. Existe uma alternativa entre o discurso escrito e o discurso oral onde, por vezes, está intercalado o monólogo interior.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tempo do Discurso

É o tratamento que o narrador dá ao tempo podendo ou não seguir a ordem cronológica dos acontecimentos. Nesta obra o narrador recorre a uma analepse que explica a construção do convento como consequência de um desejo antigo expresso em 1624 pelos franciscanos de possuírem um convento em Mafra.
O narrador corre ainda a prolepses;
  
¨      Prolepses que dão a conhecer as mortes do sobrinho de Baltasar e do infante D.Pedro para estabelecer o contraste do sois funerais;
¨      Prolepses que revela a morte de Álvaro Diogo de uma queda durante a construção do convento;
¨      Prolepses que informa sobre os bastardos que o rei iria gerar, filhos de freiras que seduzia;
¨      Prolepses que constitui uma visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador ( tempo da história e tempo da escrita ): referencia aos cravos, aos voos da passarola e a ida do homem a lua.


Espaço Psicológico

É um conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens.

Os sonhos:

¨      Os sonhos de D. Maria Ana com o cunhado, o infante D. Francisco, que revelam a sua condição feminina reprimida.
¨      Baltazar sonha com Blimunda e com o padre Bartolomeu.

Os pensamentos:
   
¨      Do padre Bartolomeu Lourenço acerca da religião, da ciência dos projectos.


O Tempo

Tempo Histórico

São todas as informações que permitem caracterizar o reinado de D. João V.

Tempo da História ou Tempo Cronológico
                                     
      Inclui todas as referências as datas, anos, meses, dias, momentos do dia.

                                   
¨      1711- D. João V ainda não fizera 22 anos;
                  D. Maria Ana tinha vindo da Áustria à 2 anos.

¨      1717- Bênção da primeira pedra do convento;
                  Baltasar e Blimuda regressam a Lisboa para continuar a passora.

¨      1719- Casamento de D .José com Mariana Vitória e de Maria Barbara com o príncipe D. Fenando VI de Espanha.

¨      1730- 22 de Outubro; 41º aniversário do rei; sagração do convento de Mafra.

¨      1739- Blimunda vê Baltasar a ser queimado num auto-de-fé.
                       Passam 28 anos.






sábado, 19 de março de 2011

Espaço Social

Procissão da Quaresma
  • Penitencia física e mortificação da alma após os excessos do Entrudo;
  • Descrição da procissão;
  • Manifestações histéricas de fé.

Auto-de-fé
  • São dias de festa;
  • Revelam o gosto sanguinário do povo, que procura preencher o vazio da sua vida através de emoções fortes;
  • As mulheres exibem as suas toilettes e entregam-se a jogos de sedução;
  • A proximidade da morte dos condenados constitui o ambiente de motivo de festa;
  • Os bens dos Judeus são deixados à coroa, daí que a sua morte seja encarada positivamente;
  • É num auto-de-fé que se conhecem Blimunda e Baltasar.

Tourada
  • Momento de tortura dos animais, por vezes comparado à tortura nos auto-de-fé;
  • Os assistentes aproveitam, mais uma vez, para se entregarem a jogos de sedução.

Procissão do corpo de Deus
  • É uma crítica às crenças religiosas;
  • Referencia como Baltasar e Blimunda vivem a procissão;
  • Critica à vida dissoluta do rei com as freiras;
  • Visão oficial da procissão como forma de libertar as almas dos pecados cometidos;
  • Histeria colectiva das pessoas que se batem a si próprios e aos outros como manifestação da sua condição de pecadores.

O Trabalho no Convento
  • Mafra surge como um local de servidão desumana a que D. João V sujeitou os seus súbitos para alimentar a sua vaidade;
  • 40.000 portugueses foram obrigados pela força das armas a se deslocarem das suas casas e a edificarem o convento.

A miséria no Alentejo
  • O Alentejo é um espaço de fome e de miséria, de luta pela sobrevivência, onde por vezes as pessoas se entregam a comportamentos imorais.

Cortejo Real
  • Atravessa o Alentejo aquando dos casamentos dos príncipes. Um grande numero de mendigos acompanha o cortejo, destacando-se mais uma vez os contrastes sociais.

sábado, 12 de março de 2011

Espaço Fisico

Espaço Físico
A evocação de dois espaços principais determinantes no desenrolar da acção: Mafra e Lisboa.

Mafra: passa da vila velha e do antigo castelo nas proximidades da Igreja de Santo André para a vila nova em cujas imediações se vai construir o convento. A vila nova cria-se justamente por causa da construção do convento.

Lisboa: descrevem-se vários espaços dos quais se destacam o Terreiro do Paço, o Rossio e S. Sebastião da Pedreira.

Portugal beneficiava da riqueza proveniente do ouro do Brasil. D. João V em decreto de 26 de Novembro de 1711 autorizou que se fundasse, na vila de Mafra, um convento dedicado a Santo António e pertencente à Província dos Capuchos Arrábidos.

Ludwig, arquitecto alemão, estava em Lisboa, em 1700, contratado como decorador - ourives, pelos Jesuítas. Foi a ele que entregaram o projecto do Mosteiro, destinado a albergar 300 frades. A traça do edifício terá sido executada por volta de 1714-1715 ao passo que a igreja, avançada até ao zimbório, foi sagrada em 1730. Outras dependências foram construídas para além da igreja portaria, refeitório, enfermaria, cozinha, claustros, biblioteca.

 Terreiro do Paço
Local onde primeiramente trabalha Baltasar na sua chegada a Lisboa, descrição pormenorizada e sugestiva da procissão do Corpo de Deus, em Junho. É um espaço fulgurante de vida, com grande importância no contexto da sociedade lisboeta da época.

Rossio
Surge no início da obra, relacionado com o auto-de-fé que aí se realiza. A reconstituição do auto-de-fé é fidedigna, a cerimónia tinha por base as sentenças proferidas pelo Tribunal do Santo Oficio e nela figuravam não só reconciliados, mas também relaxados, aqueles que eram entregues à justiça secular para a execução da pena de morte. O dia da publicação do auto era festivo, segundo se pode constatar das defesas efectuadas. A procissão propriamente dita saía na manhã de domingo da sede do Santo Oficio e percorria a cidade da Lisboa antes de chegar ao local da leitura das sentenças, numa das praças centrais. À frente seguiam os frades de S. Domingos com o pendão da Inquisição. Atrás destes os penitentes por ordem de gravidade das culpas, cada um ladeado por dois guardas. Depois, os condenados à morte, acompanhados por frades, seguidos das estátuas dos que iam ser queimados em efígie. Finalmente os altos dignitários da Inquisição, precedendo o Inquisidor – Geral. A sorte dos réus vinha estampada nos sambenitos (Hábito em forma de saco, de baeta amarela e vermelha que se vestia aos penitentes dos autos – de – fé) para que a compacta multidão que se aglomerava soubesse o destino dos condenados.

S. Sebastião da Pedreira
Local mágico ao qual só acedem o padre, Bartolomeu Lourenço, o Voador, Baltasar e Blimunda. É lá que se encontra a máquina voadora que está a ser construída em simultânea com o Convento de Mafra. A passarola insere-se na narrativa como um mito, do qual o homem depende para viver, mito proibido mas que se evidenciará e se deixará ver pelo voo espectacular que se realizará, mostrando que ao homem nada é impossível e que a vida é uma grande aventura. S. Sebastião da Pedreira era, àquele tempo, um espaço rural, onde não faltavam fontes, terras de olival, burros noras, e onde se situava a quinta abandonada. Ali irão as personagens, variadíssimas vezes e pelas razões mais diversas.

O Clero

O Clero
 
O clero desempenha na corte de D. João V um poder extraordinário e demagógico. Cultiva também os preceitos cerimoniais, de acordo com a personalidade egocêntrica do rei: “Entre passar adiante e dizer o recado há vénia complicadas, floreios de aproximação, pausas e recuos, que são as fórmulas de acesso à vizinhança do rei. Conseguindo convencer o monarca de que terá filhos se mandar construir um convento em Mafra, antiga aspiração daquela ordem religiosa. No entanto, o grande poder da Igreja reside no Santo Ofício que “tem bem abertos os olhos, em vez de balança um ramo de oliveira, e uma espada afiada onde a outra é romba e com bocas” e que domina o próprio soberano: “ El-rei, sendo caso duvidoso, só fará o que o Santo Ofício lhe disser que faça.” Através da Inquisição, da tortura, da denúncia, dos suplícios, pretendem os clérigos impor a sua vontade, eliminar todos quantos se lhe opõem, silenciar as vozes discordantes, manter a harmonia de acordo com os seus próprios interesses e vontades, retirando dos autos-de-fé grandes benefícios. Um dos seus braços visíveis é a censura aos sermões dos próprios padres, o que inspira temor e terror até ao padre Bartolomeu “o padre, assim interpelado directamente, estremece, levanta-se agitado, vai até à porta, olha para fora, e, tendo voltado, responde em voz baixa, Do Santo Oficio.” Também do aluguer de bens próprios tiram dividendos “ pela serventia dos machos, que são dos ditos frades, foram pagos doze mil réis, é um aluguer como outro, não estranhemos”. Todas estas circunstâncias são beneficiadas pela extrema devoção da rainha, sempre com novenas e devoções, rezando infinitamente, favorecendo com os seus temores e fervor religioso o poder tentacular da Igreja, que também tirará grandes dividendos do convento de Mafra.
A Igreja aproveita habilmente a ignorância do povo para atemorizar e explorar e para o levar a dar graças “Andava procissão na rua, todos dando graças pelo prodígio que fora Deus servido fazer, mandando voar por cima das obras da basílica o seu Espírito Santo”. Todas as doutrinas são hipócritas e falsamente morais, é do conhecimento geral que o rei tem relações com as freiras, pois que os frades não cumprem o celibato “vêm para aí os frades fornicar as mulheres, como é costume deles”. Curioso e hilariante é também a história de onde é posta a nu a verdade das relações carnais praticadas por muitos membros do clero e que sobressai na manifestação pública das freiras, “ com o que pretende sua majestade pôr cobro ao escândalo de que são causa os freiráticos, nobres e não nobres, que frequentam as esposas do Senhor e as deixam grávidas no tempo de uma ave-maria”.


Caracterização das Personagens

Domenico Scarlatti
Ficheiro:Domenico Scarlatti.jpg



Scarlatti representa a arte que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda e possibilita a conclusão e o voo da passarola. Foi contratado pelo rei D. João V, para dar aulas de música as suas filhas e acabou por ficar em Portugal.
"(...) vem de Londres contratado Domenico Scarlatti (...) il signor Scarlatti só chegou a poucos meses, e por que hão-de estes estrangeiros tornar os nomes difíceis, se tão pouco custa descobrir que é Escarlate o nome deste, e bem lhe fica, homem de completa figura, rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados, não sei que têm os Italianos, e então este, em Nápoles nascido à trinta e cinco anos (…)
O italiano dedilhou o cravo, primeiro sem destino, depois como se estivesse à procura de um tema ou quisesse emendar os ecos, e de repente pareceu fechado dentro da musica que tocava, corriam-lhe as mãos sobre o teclado como uma barca florida na corrente, demorada aqui e além pelos ramos que das margens se inclinam, logo velocíssima, depois pairando nas águas dilatadas de um lago profundo, baía luminosa de Nápoles, secretos e sonoros canais de Veneza, luz refulgente e nova do Tejo (…)”    

terça-feira, 8 de março de 2011

Caracterização das personagens

D. João V



Em Memorial do Convento, José Saramago caractriza o rei D. João V como megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer os seus caprichos. Poderoso e rico, D. João V  medita " no que fará a tãoi grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza", e anada preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir bastardos. Promete "levantar um Convento em Mafra" se tiver filhos da rainhas Maria Ana Josefa, com quem tem relações para cumprimento do dever, em encontros frios e programados. A sua pretensão vai realizar-se com o nascimento da princesa Maria Bárbara e, apesar da decepção por  nao ser um menino, mantém a promessa de que "Haveremos convento".

Baltasar Sete-Sois

Em Memorial do Convento, José Saramago caracteriza o rei D. João V como megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer os seus caprichos.
Poderoso e rico, D. João V medita “no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza”, e anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir bastardos. Promete “levantar um convento em Mafra” se tiver filhos da rainha Maria Ana Josefa, com quem tem relações para cumprimento do dever, em encontros frios e programados. A sua pretensão vai realizar-se com o nascimento da princesa Maria Bárbara e, apesar da decepção por não ser um menino, mantém a promessa de que “Haveremos convento” (Cap. VII).
O rei, que com “medo de morrer” decide a sagração da basílica de Mafra para o dia do seu aniversário (22 de Outubro de 1730), surge, diferente da Historia, ridicularizado.

D. Maria Ana Josefa
É passiva, insatisfeita, vive um casamento baseado na aparência. Uma sexualidade reprimida; liberta-se através dos sonhos, atracção que sente pelo cunhado leva-a redimir-se pela oração.

Baltasar Mateus, de alcunha Sete-Sois, é, com Blimunda, uma das personagens mais interessantes da obra e das que possuem maior densidade psicológica.
Baltasar, depois de deixar o exército, por ficar maneta em combate com os castelhanos, na guerra da sucessão, chega a Lisboa como pedinte. Conhece Blimunda Sete – Luas, com quem partilhará a sua vida. Vai ainda partilhar do sonho da passarola voadora do padre Bartolomeu de Gusmão, ajudando a construí-la e participando no seu primeiro voo. É este que os alcunha:

o padre virou-se para ela, sorriu, olhou um e olhou outro, e declarou, Tu és Sete-Sois porque vês às claras, tu serás Sete – Luas porque vês às escuras, e, assim, Blimunda, que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou sendo Sete – Luas”

Blimunda Sete – Luas
 Filha de Sebastiana Maria de Jesus, que fora, pela inquisição, condenada e degredada, por ser cristã-nova conhece Baltasar. Com capacidades de videntes e possuidora de uma sabedoria muito própria, vai ajudar na construção da passarola e partilhar com Baltasar as alegrias, tristezas e preocupações da vida.
Blimunda é uma estranha vidente que vê no interior dos corpos os males que destroem a vida e consegue recolher as “ vontades” vitais que permitirão o voo da passarola do padre Bartolomeu. Por amar Baltasar, Blimunda recusa usar a magia para conhecer o sei interior.
O poder de Blimunda permite, simultaneamente, curar e criar, ou melhor, ver o que está no mundo, as verdades mais profundas que o sustentam.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
“ Já o padre Bartolomeu Lourenço regressou de Coimbra, já é doutor em cânones, confirmado de Gusmão por apelativo onomástico e firma escrita”

O sonho da passarola voadora e a sua futura realidade apresentam o padre Bartolomeu Lourenço como um homem que só conseguirá evitar a Inquisição pela amizade que lhe tem o rei D. João V, que também possui o sonho e a esperança da máquina voadora.
Ajudado por Baltasar e Blimunda e, por vezes, com a companhia de Domenico Scarlatti, que ao som do cravo sonhava e ajudava a sonhar, o padre Bartolomeu Lourenço construiu a sua obra. A sua morte, em Toledo, “para onde tinha fugido, dizem que louco”, é anunciada pelo músico Scarlatti a Sete – Sois e a Blimunda.

Personalidade autêntica da História, Bartolomeu de Gusmão estudou com os Jesuítas da Baía. Devido ao interesse pelas questões científicas, veio em 1701 para Portugal. Fez o curso de Cânones da Universidade de Coimbra, mas a sua atenção, com o apoio de D. João V, prendeu-se com experiencias aerostáticas, a que não ficou alheia a mistificada “passarola voadora”. Segundo parece, foi forçado a fugir à Inquisição por possível adesão ao judaísmo ou por se ter envolvido num caso de bruxaria. Morreu em Toledo, em 1724.

POVO
Personagem importante, o povo trabalhador construiu o convento de Mafra, à custa de muitos sacrifícios e mesmo de algumas mortes. Definido pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral, pela sua devoção, este povo humilde surge como o verdadeiro obreiro da realização do sonho de D. João V. Os trabalhadores são apenas qualquer coisa mais desta obra grandiosa, ou, como diz o narrador, “a diferença que há entre tijolo e homem é a diferença que se julga haver entre quinhentos e quinhentos […]”.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Autos-de-Fé


Os autos de fé tinham início com um sermão, durante o qual se apontavam e condenavam as heresias, ao mesmo tempo que se exaltava a fé católica. Seguia-se a leitura das sentenças, por ordem decrescente de gravidade, sem que o acusado tivesse qualquer hipótese de defesa nem conhecimento das testemunhas de acusação.
Pela manhã, os presos eram trazidos para um grande pátio onde lhes eram vestidos os hábitos para seguirem em procissão. À frente iam os frades dominicanos, empunhando a bandeira da Inquisição, seguindo-se os penitentes em geral, todos envergando vestes negras sem mangas, descalços e trazendo na mão uma vela. Depois destes vinham os penitentes que por pouco tinham escapado da morte, exibindo por cima das vestes negras chamas pintadas com as pontas viradas para baixo, significando que se salvaram, mas apenas do fogo. A seguir vinham os relapsos, cujo destino era a fogueira, tendo pintadas as chamas de pontas para cima. Por fim, os heresiarcas, que, para além das chamas na mesma posição dos que caminhavam à sua frente, traziam pintado no hábito o retrato do seu próprio busto, rodeado de cães, serpentes e diabos, todos eles de boca aberta. Tornava-se assim evidente o carácter ato simbólico e de espetáculo público (ao qual há notícia de acorrer muita gente) dos autos de fé.
Os presos que iam ser queimados iam acompanhados por um familiar (ou seja, um membro da Inquisição) e por um jesuíta, que lhes pediam para abjurarem das suas heresias. Só sofriam a pena máxima - serem queimados vivos na fogueira, à vista do povo - os hereges que não confessassem o erro de que eram acusados. A confissão podia livrá-los da pena máxima mas não de outras penas de índole diversa.
O primeiro auto de fé em Portugal teve lugar no ano de 1540.

Passarola Voadora


Passarola voadora foi um “instrumento de andar pelo ar”, como consta da petição de privilégio do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão ao rei D.João V, e de que teve alvará, em 19 de Abril de 1709. Nesse mesmo ano, em 8 de Agosto, na sala dos embaixadores da Casa da Índia, apresentou a sua primeira experiencia elevando a uns quatro metros um pequeno balão de papel, cheio de ar quente, perante a admissão da Corte, do Núncio Apostólico, Cardeal Conti (futuro papa Inocêncio XIII) e do Corpo Diplomático (como referem documentos da época).
Depois de Leonardo da Vinci, no século, ter desenhado a primeira máquina voadora, o padre Bartolomeu torna-se num pioneiro da história da avaliação ao conseguir inventar um aeróstato, o primeiro engenho capaz de se elevar no ar.
Mais tarde, em 1783, os irmãos Montgolfier (Joseph e Étienne) irão lançar em Annanay, em França, um balão de ar quente capaz de transportar pessoas.
O padre Bartolomeu Lourenço (Santos, Brasil, 1685- Toledo, Espanha, 1724) era um visionário, que acreditava na ciência e nas capacidades dos homens. Mas o inventor português parece ter sido forçado a fugir à inquisição, embora a tenha evitado, durante muito tempo, pela amizade do rei.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão


Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi inventor e sacerdote, nasceu em Santos, São Paulo e morreu em Toledo na Espanha em 1724. Irmão do famoso estadista e diplomata Alexandre de Gusmão, cognominado o “Padre Voador”, estudou Direito Canônico na Universidade de Coimbra, onde se ordenou sacerdote. Foi nomeado Capelão da Casa Real por Dom João V. Padre Gusmão começou a se interessar pelos planos de um aparelho voador. Foi professor de matemática. O sermão mais conhecido de produção religiosa, é apenas o Sermão de Nossa Senhora do Desterro, Sermão da Virgem Maria e Sermão da Festa do Corpo de Deus, editados por Afonso d’Escragnolle Taunay. Obteve grande prestigio como pregador, fanáticos inimigos procuraram de todos os modos prejudicá-lo. As intrigas que o envolveram nesta perseguição, só lhe restaram fugir para Espanha. Em 1711, Bartolomeu de Gusmão viajou para Roma, numa visita diplomática; no seu retorno foi nomeado, Secretário dos Estrangeiros. Suas experiências de frustrações haviam excitado as suspeitas e dúvidas do Santo Ofício. Bartolomeu volta para Espanha, onde veio a falecer no Hospital de Toledo. Foi suspeito aos olhos da Inquisição o seu próprio invento, pois nele perceberam obra de feitiçaria. Suas pesquisas deixaram publicadas: Descrição do novo invento curostático ou Máquina Volante do Método de produzir gás ou vapor com esta se enche e Vários Modos de Esgotar, sem gente ou Navios que fazem água. Gusmão, destaca-se: o seu maior mérito está em haver sido o primeiro homem do novo mundo a apresentar um grande invento.

Obras mais importantes de Reinado de D. João V

Igreja-Convento-Palácio de Mafra;


Aqueduto das Águas Livres


Igreja-Palácio das Necessidades


Convento de Arroios


Convento de Rilhafoles



Igreja do Menino de Deus


Igreja de Santa Isabel



Capela de S. João Baptista


Real Academia Portuguesa de História;

Aula do Risco;
Academia de Portugal em Roma;
Fábrica da Pólvora;
Fonte pública monumental do Rato;
Observatório Astronómico do Colégio de Santo Antão.






D. João V


Filho de D. Pedro II e de Maria Sofia de Neubourg, foi aclamado rei em 1707. 
Quando inciou o reinado, estava-se em plena Guerra da Sucessão de Espanha, que para Portugal significava o perigo da ligação daquele país à grande potência continental que era a França. No entanto, a subida ao trono austríaco do imperador Carlos III, pretendente ao trono espanhol, facilitou a paz que foi assinada em Utreque, em 1714. Portugal viu reconhecida a sua soberania sobre as terras amazónicas e, no ano seguinte, a paz com a Espanha garantia‑nos a restituição da colónia do Sacramento. 
Aprendeu D. João V com esta guerra a não dar um apreço muito grande às questões europeias e à sinceridade dos acordos; daí em diante permaneceu inalteravelmente fiel aos seus interesses atlânticos, comerciais e políticos, reafirmando nesse sentido a aliança com a Inglaterra. Em relação ao Brasil, que foi sem dúvida a sua principal preocupação, tratou D. João V de canalizar para lá um considerável número de emigrantes, ampliou os quadros administrativos, militares e técnicos, reformou os impostos e ampliou a cultura do açúcar. Apesar disso, Portugal entra numa fase de dificuldades económicas, devidas ao contrabando do ouro do Brasil e às dificuldades do império do Oriente. 
A este estado de coisas procura o rei responder com o fomento industrial, mas outros problemas surgem, agora de carácter social: insubordinação de nobres, quebras de discipliana conventual, conflitos de trabalho, intensificação do ódio ao judeu. Por outro lado, o facto da máquina administrativa e política do absolutismo não estar de maneira nenhuma preparada para a complexidade crescente da vida da nação, só veio agravar as dificuldades citadas. 
Culturalmente, o reinado de D. João V tem aspectos de muito interesse. O barroco manifesta-se na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande riqueza. No campo filosófico surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário, António José da Silva. É fundada a Real Academia Portuguesa de História e a ópera italiana é introduzida em Portugal.

Biografia de José Saramago

José Saramago (16-11-1922, Azinhaga, Golegã 18-06-2010, Tias, Lanzarote), romancista, cronista, dramaturgo, poeta, tradutor, director de jornais, foi galardoado, em 1998, com prémio Nobel da Literatura. Na sua obra, é possível encontrar a palavra herdada e a palavra ansiada; deparar com o homem moderno, as suas tensões, as suas angústias e as suas dúvidas; viajar ao interior do homem na procura da experiencia magica de nos conhecermos; perscrutar o que o mundo nos pode dizer, através da sua magia, dos seus elementos sobrenaturais; descobrir as possibilidades da escrita, graças à inovação, à subversão, ao entrelaçamento de discursos.
A personalidade de Saramago é, como a sua própria obra, multifacetada e sempre em busca do sentido para esta efemeridade, que constituía vida e o mundo.
Um dos mais belos exemplos da arquitectura Saramaguiana é Memorial do Convento. A construção do Convento de Mafra, o espectro da Inquisição, o projecto da passarola voadora do Padre Bartolomeu de Gusmão e um conjunto de outros factos que sucederam durante o reinado D. João V dão corpo a esta obra. Com as memorias de uma época, reinventando a História pela ficção, constrói um romance histórico, mas simultaneamente social, ao fazer a analise das condições sociais, murais e económicos da corte e do povo.
                                  

Introdução

Elaboramos este blog no âmbito da disciplina de Português, onde ao longo das aulas vamos colocar aqui algumas das informações mais importantes do “Memorial do convento”, que nos vão ajudar a compreender e a perceber melhor esta obra.


Saramago, em Memorial do Convento, recorre a um momento da História e, em forma de narração alegórica, propõe uma reflexão sobre esses acontecimentos, sobre o comportamento e o destino humano e sobre um mundo onde há a magia do inexplicável.
Romance histórico, mas também social de espaço. Este romance articula o plano da Historia (espaço físico e sociocultural) com o plano da ficção e o plano do fantástico. O titulo Memorial do Convento sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra, com o que de grandiosos e de trágico representou como símbolo do pais. A verdade histórica do reinado de D.João V (no século XVIII), com a construção do convento de Mafra, a inquisição e os autos-de-fé, ou os espaços sociais cortesãos, eclesiásticas e populares, serve de base contextual para a narração ficcional da reinvenção histórica e para a construção da acção com uma vertente do fantástico que envolve a relação de Blimunda e Baltasar, a realização dos sonhos da passarola ou as crenças num universo de magia.
O fio condutor da intriga passa por Blimunda, que imprime à acção uma dinâmica muito própria e lhe confere espiritualidade, ternura e magia. A acção acaba por se centrar na relação entre Baltasar e Blimunda, que transgride todos os códigos em qualquer tempo, nomeadamente da época.